Definir exatamente sobre o que é Star Wars atualmente pode ser tão desafiador quanto destruir a Estrela da Morte. Desde o lançamento de “A Ascensão Skywalker” em 2019, a franquia não ganhou novos filmes — apesar de muitos terem sido anunciados ou especulados. Em vez disso, o universo Star Wars tem sobrevivido por meio de séries em live-action e animações no Disney+, como “The Acolyte”, “The Bad Batch”, “Visions”, “Obi-Wan Kenobi” e “Ahsoka”. Essas produções exploram visões diversas sobre a galáxia muito, muito distante, com níveis variados de sucesso. Na última semana, durante o evento Star Wars Celebration no Japão, a Lucasfilm apresentou seus próximos projetos — entre eles, filmes com Ryan Gosling, Baby Yoda e mais uma produção centrada em Darth Maul.
Mas é a estreia da segunda temporada de “Andor”, nesta terça-feira, e a reexibição comemorativa dos 20 anos de “Star Wars: A Vingança dos Sith”, na sexta, que trazem à tona um elemento que há tempos não era tão evidente: Star Wars é, em grande parte, uma narrativa política sobre resistência e esperança.
Há paralelos com o presente? Basta um olhar atento. “Queríamos contar uma história sobre revolução”, afirma Tony Gilroy, criador e showrunner de “Andor”, em entrevista ao The Washington Post. “Queríamos abordar a insurreição. Falar sobre autoritarismo e a ambição pelo poder. E, acima de tudo, contar o que acontece com pessoas comuns quando a história arromba sua porta.”
Essa abordagem já estava presente em 1977, em “Uma Nova Esperança”, onde Luke Skywalker e Han Solo se juntam à rebelião liderada pela Princesa Leia, que depois enfrentaria e derrubaria o Imperador e seus asseclas em “O Império Contra-Ataca” (1980) e “O Retorno de Jedi” (1983).
Ao retornar à franquia com a trilogia prelúdio, George Lucas escolheu “A Vingança dos Sith”, de 2005, para mostrar como o Império tomou o poder. O filme se passa nos momentos finais das Guerras Clônicas, um conflito civil galáctico. Ao final, o chanceler Sheev Palpatine convence a galáxia de que os Jedi — antes guardiões da paz — haviam se voltado contra o governo. Usando os poderes emergenciais concedidos durante a guerra, ele transforma a República no Império Galáctico. Poucos mundos ousaram resistir.
“Então é assim que a liberdade morre”, diz Padmé Amidala (Natalie Portman), ao ouvir Palpatine anunciar o novo regime. “Com aplausos estrondosos.”
Em “Andor”, décadas após a ascensão do Império, o clima é bem diferente. Os líderes planetários não aplaudem mais — agora, temem.
Na primeira temporada, exibida em 2022, vimos os primeiros passos da rebelião. O espião Luthen Rael (Stellan Skarsgård) comanda operações secretas e coleta informações, enquanto Mon Mothma (Genevieve O’Reilly) tenta manter viva a chama da democracia no ambiente político. E Cassian Andor (Diego Luna) enfrenta seu próprio dilema interno: será que está pronto para se tornar um rebelde?
A segunda temporada dá continuidade a essa trajetória. Cassian começa a estruturar uma base rebelde em Yavin IV, a lua florestal que sediaria mais tarde a icônica Batalha de Yavin, mostrada no primeiro filme da saga. Ao mesmo tempo, ele tenta impedir o Império de cometer um dos seus maiores crimes: o massacre do pacífico planeta Ghorman. Se a primeira temporada abordou os primórdios da resistência, a nova leva de episódios trata da manutenção dessa luta — e dos sacrifícios feitos para manter acesa a chama da rebelião. Aqui, os heróis não são figuras mitológicas ou invencíveis, mas pessoas comuns diante de escolhas difíceis.
“Pedimos muito do público com esta série”, explica Gilroy. “Queremos que eles acompanhem experiências profundas e complexas com esses personagens — com suas dores, sacrifícios, coragem e traições. Acho que toda revolução, todo grande movimento, toda causa realmente importante acaba esquecendo as pessoas que serviram de alicerce. E essa série trata exatamente disso.”